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sábado, 22 de dezembro de 2012




O fim do mundo.


O dia amanheceu com ares de fim de mundo. Um vendaval soprando atlântico afora, derrubando galhos de arvores, atravessando os campos e vilarejos da região basca, se esbarrando contra o paredão rochoso chamado de Pirineus. Aquele muro que separa a França da Espanha. Pegando a rodovia de Toulouse, as 9:12 da manhã, seguindo as montanhas, fui visitar 'monsieur' Martin.

Foi ao chegar no apartamento do dito senhor, que pensei: 'isso dá matéria para um cronica, porem tão incrível que os fies e os infiéis leitores vão pensar que, precisando de uma cronica para marcar o fim do mundo, eu inventei a historia'. Por incrível que pareça, é tudo verídico, tirando os blá blá blas de sempre, claro.

Vimos o senhor Martin na semana passada. Ele apareceu no culto da manhã e me perguntou se podia visita-lo durante a semana. Quando me disse onde morava, eu não exitei. Mesmo que seja o dia do fim do mundo, não tenho como não ir. Vou poder contemplar a beleza das montanhas de novo!

Mesmo as nuvens negras vindas do oceano, não conseguiram esconder a beleza da cadeia montanhosa que nasce no mediterrano e se joga, literalmente, dentro do oceano. La estavam os picos colossais, cobertos de neve, lindos como sempre. Não pude ignorar que o rio que atravessei, tinha aquela cor tipica de rios que descem das altas montanhas, águas cristalinas, azuladas....

Tanta beleza, porem não consegue esconder os traumas, os sofrimentos, as lagrimas que inundam a vida das pessoas, como a daquele senhor. As vezes a gente esquece que por mais belo que seja a paisagem, ela não impede que a morte reine, que as trevas cubram a vida dos seres humanos que povoam este planeta que para muitos acabou já faz tempo.

Separação, distancia dos filhos, apartamento vazio, desemprego, uma televisão, um colchão no chão, duas bisnagas francesas e um cachorro. Tudo o que sobrou, o que ficou, o que ainda não se foi. Sentei no chão e fiquei ouvindo a historia triste daquele homem que estava perdendo o que o ser humano tem de mais precioso, sua dignidade.

Ao lado do colchão um tesouro. Posta ali no chão frio, preta, como tantas outras, um livro. O famoso livro! O livro, que é pagina escrita, conteúdo revelado , poderoso, divino, voz de Deus falando, mesmo no deserto de um coração conturbado e sofrido. Aquele homem estava lendo o Evangelho segundo Mateus.

“Meu primeiro encontro com um cristão protestante aconteceu tem uns quatro anos. Estava viajando pelo país, passando por uma estrada perigosa, num momento de inatenção, perdi o controle do carro e cai numa vala e não pude sair. Carros passaram, se foram, ninguém quis ajudar. Quando já começava a desesperar, um carro parou e dele saiu um casal. Não conseguimos tirar o carro da vala. Fiquei surpreso quando o casal se prontificou de me levar à minha cidade, longe dali. Me deixaram em casa, anotaram o telefone num pedaço de papel e se foram. Na confusão, perdi o telefone, mas uns tempos depois minha esposa encontrou o pedaço de papel e entramos em contato com o casal que me ajudou a sair do buraco. Daquela vez eu soube que eles eram cristãos. Foi a primeira vez que ouvi alguém falar do Evangelho de Deus.'

Fiquei olhando para aquele homem que mal conhecia e fiquei pensando como Deus age, como não abandona o homem, mesmo que este tenha decidido de passar pelas estradas perigosas da vida. Como ele as vezes faz com que um carro saia da estrada, caia numa vala numa estrada deserta longe de cidade e vilarejo, no meio das montanhas sublimes!

“Como o senhor ficou conhecendo nossa igreja?' Eu quis saber. 'Eu vim morar nesta região à procura de emprego. Mulher, mala, cuia (cuia europeia, claro), crianças e vontade de mudar de vida. Um dia passando pela estrada costeira, eu vi, em frente de uma casa um carro à venda. Parei e perguntei sobre preço e tudo mais e no final eu ganhei uma Bíblia e um convite para ir a igreja.”

Voltando para casa, eu me lembrei que a pessoa da igreja que estava vendendo o carro morava na estrada que pegamos todos as quintas para estudar a Bíblia em Saint Jean de Luz. A casa fica realmente à beira da estrada. Exatamente no lugar de onde se vê as montanhas e o oceano. Minha vista predileta da região.

E até agora nada do mundo se acabar, quem sabe em 2013. Se terminar em 14, a copa do mundo brasileira... Enquanto não termina, vamos lutando, batalhando, levando aos corações as Boas Novas vindas da Eternidade.

Um por todos e todos por um.



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